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29/06/2020 | 16:53 | Política

Após adiar posse, governo reavalia nomeação de novo ministro da Educação

Decotelli tem mostrado a interlocutores preocupação com permanência e identifica perseguição da imprensa

Decotelli tem mostrado a interlocutores preocupação com permanência e identifica perseguição da imprensa
Reprodução/Internet
As revelações de que o novo ministro da Educação, Carlos Alberto Decotelli, incluiu informações equivocadas em seu currículo geraram incertezas sobre a permanência dele à frente do Ministério da Educação (MEC).
A nomeação de Decotelli foi publicada em edição extra do Diário Oficial na quinta-feira (25). O governo Jair Bolsonaro planejava uma solenidade de posse nesta terça-feira (30), mas a realização do evento não estava confirmada até o fim da manhã desta segunda-feira (29).
Segundo o Estadão Conteúdo, o próprio grupo militar que indicou o ex-professor está constrangido porque foi surpreendido pelos problemas acadêmicos e está avaliando a repercussão do caso. Ele também perdeu o apoio que tinha entre professores da Fundação Getuúlio Vargas (FGV).
O próprio Decotelli tem mostrado a interlocutores preocupação com sua permanência e identifica perseguição da imprensa. A Folha de S.Paulo solicitou entrevista com o ministro, mas não obteve retorno.
Os desmentidos no currículo tiveram um efeito negativo considerável no governo, uma vez que Decotelli fora escolhido exatamente pelo seu perfil técnico. Seu nome foi uma aposta da área militar dentro do governo e, no anúncio do cargo, o próprio Bolsonaro evidenciou os títulos do nomeado.
A expectativa no Planalto é que Bolsonaro tome uma decisão sobre o futuro do ministro da Educação o mais rápido possível. Se o presidente decidir demitir, o mais provável, segundo o Estadão apurou, é que Decotelli apresente uma carta pedindo para deixar o cargo.  Essa estratégia já foi discutida na Presidência.
Integrantes mais alinhados à ala ideológica, que apoiavam o ex-ministro Abraham Weintraub, têm feito oposição à permanência do substituto. Decotelli já disse a interlocutores que não cumprirá funções ideológicas na pasta, embora não planeje grandes alterações na equipe do MEC.
Os problemas com o currículo criaram também um constrangimento entre integrantes do próprio grupo que patrocinou seu nome, segundo pessoas com trânsito no MEC. O argumento é de que as notícias têm potencial de ridicularizar o governo no momento de necessidade de um sinal de seriedade com a educação, após todo o desgaste com a postura ideológica de Weintraub.
A avaliação nos bastidores é de que, mesmo que seja mantido no cargo, o novo ministro chega enfraquecido à pasta, palco de disputas entre alas divergentes do governo desde o início da gestão Bolsonaro.
Constava no currículo de Decotelli um doutorado pela Universidade Nacional de Rosario, da Argentina, mas o próprio reitor da instituição, Franco Bartolacci, negou que ele tenha obtido o título. Há ainda sinais de plágio na sua dissertação de mestrado.
A Universidade de Wuppertal, na Alemanha, também informou que o novo ministro não possui título de pós-doutor da instituição, ao contrário do que constava em seu currículo.
Decotelli fez parte da transição do governo no grupo, de forte presença militar, que discutia educação. Com a indicação de Ricardo Vélez Rodríguez para o comando da pasta, ele assumiu o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).
Deixou o cargo em agosto de 2019 depois que o governo negociou a entrega do cargo a nome indicado de partidos como DEM e PP. Rodrigo Sergio Dias seria demitido no fim de 2019 e, após gestão de funcionária de carreira, o órgão voltou para o centrão neste ano.
O professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) Marcus Vinicius Rodrigues também fez parte do grupo de educação da transição de governo e presidiu o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) até março de 2019. Para Rodrigues, o tema já foi superado e Decotelli vai permanecer
— Decotelli é um dos maiores e mais sérios professores do país. Existem erros que seria ideal que não tivessem ocorrido, mas isso não mancha a postura e história do Decotelli — diz Rodrigues.
—Acho que está tudo esclarecido. Decotelli deve, para o bem do Brasil, ficar no governo. Precisamos de um gestor, negociador, e ele é um grande gestor e negociador.
Rodrigues afirma que a posse dele vai ocorrer a depender da agenda do presidente. 
— Temos hoje um ministro indicado pelo presidente da República, continua ministro e está sendo definida a posse dele.
A assessoria de imprensa do MEC disse na sexta-feira (26) que Decotelli concluiu os créditos das disciplinas necessárias para a obtenção do título de doutor na Universidade Nacional de Rosário. Ele também negou as acusações de que teria cometido plágio em sua dissertação de mestrado e afirmou que revisará o trabalho.
— Em nenhum momento a Secom confirmou o evento à imprensa e, até agora, não há previsão para essa cerimônia — afirmou, nesta segunda-feira (29), o Palácio do Planalto sobre a posse do novo ministro.
Fonte: Gaúcha ZH
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