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08/07/2020 | 08:43 | Polícia

''Não era para ela estar lá'', diz pai de influenciadora digital executada em ataque a tiros em Araricá

Karuel Barbosa, 24 anos, e o namorado Adair Silva, 31, foram assassinados com 80 disparos após o apartamento dele ser invadido

Karuel Barbosa, 24 anos, e o namorado Adair Silva, 31, foram assassinados com 80 disparos após o apartamento dele ser invadido
Jovem mantinha perfil nas redes sociais onde divulgava produtos e mostrava como era seu cotidiano - Arquivo Pessoal / Arquivo Pessoal
Na noite de 4 de junho, Karuel Barbosa, 24 anos, jantou com a família em Campo Bom, no Vale do Sinos, e combinou que no dia seguinte iria com a mãe fazer fotos para uma loja - ela atuava como modelo e influenciadora digital. Quando os pais foram para a cama, a jovem já estava de pijama no quarto dela. Pouco mais de uma hora depois, os dois despertaram com o aviso de um familiar: o apartamento do namorado da filha, Adair Silva, 31 anos, em Araricá, a 18 quilômetros dali, havia sido invadido. O primeiro ímpeto foi acordar Karuel, mas uma mensagem no celular mudaria a vida do casal dali em diante. "Mãe, vou lá no Índio (como ela chamava o namorado). Amanhã cedo eu volto". Enquanto eles dormiam, a filha havia saído de casa e também foi executada no ataque a tiros. 
Nessa terça-feira (7), Vilson Barbosa completou 57 anos, mas não encontrou motivos para comemorar. Um mês após a morte da única filha que teve com Isabel Felix, 42 anos, tenta encontrar forças para compreender o que aconteceu. Apega-se ao fato de que precisa dar apoio à esposa — Isabel tem dificuldade para se alimentar e dormir. Chora com frequência. Os dois procuraram ajuda psicológica, mas os dias têm sido difíceis. 
— Para todo lado que olhamos dentro de casa, é como se ela estivesse ali. Estava sempre trabalhando, correndo atrás, para poder ter as coisas. Queria nos dar um pouco mais de conforto. Sempre que recebia um dinheiro, corria para comprar um presente para a mãe dela. Era a filha que todo pai e toda mãe quer ter. Amada, querida, humilde — descreve Vilson. 
O pai recorda que naquela noite, assim que acordaram e foram informados de que o apartamento tinha sido invadido, decidiram acordar Karuel e avisar que algo havia acontecido com o namorado. Encontraram o quarto vazio e a mensagem no telefone de Isabel. De carro, seguiram para Araricá e, já no trajeto, por telefone, souberam que a filha não havia sobrevivido. 
— Foi uma cena terrível. É a pior coisa que pode acontecer na vida de um pai. Não queríamos que tivesse acontecido com ele também. Os dois se gostavam muito. Fico pensando que foi assim para que ela não sofresse a perda dele. O sofrimento dela ia ser muito grande. Não sei como ia reagir. Mas é difícil entender. Não era para ela estar lá. Era para estar dormindo, dentro de casa — desabafa. 
Vilson conta que a filha demorou a ceder as insistências de Silva para que namorassem. A jovem dizia que queria primeiro encaminhar a vida dela. Os dois estavam juntos há cerca de três anos. Karuel costumava ir visitar o namorado em Araricá, especialmente aos fins de semana. O rapaz também ia até a casa dos pais dela, mas com pouca frequência. O pai diz que a filha estava feliz com o namoro e que eles acreditavam que Silva trabalhava com investimentos online. 
Na casa em Campo Bom, o quarto lilás da filha, onde a cama de solteiro está coberta de bichinhos de pelúcia, foi mantido intacto. As fotos de Karuel ainda adolescente estão na parede, assim como uma dela com o namorado. No guarda-roupas, em uma maleta, as maquiagens que havia aprendido a usar em um curso profissionalizante. Havia recebido o diploma semanas antes de ser executada — estava empolgada com isso. Também trabalhava como manicure, atendendo em casa, e como garçonete em um restaurante. 
Foi o pai que escolheu como Karuel se chamaria, após uma viagem para Foz do Iguaçu, no Paraná, onde ouviu o nome e achou bonito. Mas no registro o cartório só aceitou a grafia Caruel e não como Vilson queria, com K. Quando cresceu, a jovem decidiu fazer a vontade dele, e passou a se identificar dessa forma nas redes sociais. No Instagram, havia alcançado 70 mil seguidores em maio. Como influenciadora digital e modelo, divulgava marcas de roupas, produtos de beleza, entre outros. Também costumava postar fotos e vídeos do seu cotidiano, no qual mostrava sua alimentação saudável e a rotina de treinos na academia. 
— Ela estava tão feliz. As coisas estavam dando certo. Ela era muito querida. Desde pequena, era muito meiga, carinhosa. Era minha filha perfeita. Então aconteceu essa tragédia — diz o pai. 
Após o crime, o número de pessoas acompanhando a página cresceu e estava em 101 mil nesta terça-feira. A família pretende, no futuro, dar continuidade às postagens na página da jovem. Apegam-se a outro plano que, como pais não gostariam de fazer: querem reunir recursos para transferir o corpo da filha a um cemitério jardim. 
— É o nosso sonho daqui para a frente. Minha esposa sofre muito, sempre triste, perdeu peso, está arrasada. Eu sofro duas vezes, pela perda e por ver ela assim — confidencia. 
Investigação
Segundo a polícia, o casal estava na sala jogando videogame quando os criminosos invadiram o local e executaram os dois. Foram disparados quase 80 tiros dentro do apartamento, com armas de diversos calibres, inclusive fuzil. O crime aterrorizou vizinhos no município de  cerca de 5 mil habitantes. No início da apuração, a Polícia Civil informou que o alvo do crime era o namorado da jovem e que ela foi morta porque estava no apartamento com ele. Acerto de contas envolvendo o tráfico de drogas era considerada principal linha de investigação. 
Nessa terça-feira, questionado sobre o avanço da apuração do caso, o delegado Fernando Pires Branco afirmou que não há nada para ser divulgado. Sobre as hipóteses investigadas, também disse que não revelaria nenhuma informação. A família da jovem espera que a elucidação da morte possa trazer um pouco de alento para a dor. 
— Estar sem respostas é muito difícil para nós. Estamos esperando, confiando na polícia, que teremos Justiça. Entender o que aconteceu pelo menos vai nos dar algum conforto — diz o pai.
Fonte: Gaúcha ZH
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