Logomarca Paulo Marques Notícias

25/09/2020 | 06:12 | Geral

Empresários defendem desoneração da folha, mas criticam nova CPMF

Governo Bolsonaro estuda ampliar benefício para empresas em troca de imposto sobre transações digitais

Governo Bolsonaro estuda ampliar benefício para empresas em troca de imposto sobre transações digitais
Paulo Guedes, ministro da Economia - Mateus Bruxel / Agencia RBS
O governo Jair Bolsonaro estuda ampliar a desoneração da folha de pagamento, mas, em contrapartida, ensaia a criação de um imposto sobre transações digitais para compensar a perda de receitas. Parte do empresariado gaúcho celebra a possibilidade de manutenção da política que altera a forma de contribuição previdenciária. Por outro lado, demonstra preocupação e critica o eventual lançamento de tributo nos moldes da antiga CPMF.
Hoje, a desoneração da folha contempla 17 setores intensivos em mão de obra, especialmente na indústria. O tema voltou a ocupar o centro de debates em meados deste ano. Diante dos estragos provocados pela pandemia do coronavírus no mercado de trabalho, o Congresso estendeu essa política até o final de 2021 — a vigência acabaria em 2020. Entretanto, com o temor de perda de receitas, Bolsonaro vetou a prorrogação, a pedido do Ministério da Economia.
A decisão deu origem a uma mobilização empresarial junto a parlamentares. Há expectativa de que o Congresso derrube o veto de Bolsonaro na próxima semana. Com a possibilidade de derrota, o ministro da Economia, Paulo Guedes, mudou de postura e cogita agora uma ampla desoneração, que poderia atingir todos os setores. Mas o governo usaria a medida para tentar destravar a criação do imposto sobre transações digitais, apelidado de nova CPMF, que enfrenta resistência no meio empresarial e no ambiente político.
Atualmente, a desoneração é usada por ramos como a indústria calçadista. Representante das fábricas do setor, a Abicalçados, com sede em Novo Hamburgo, participa do movimento em defesa da prorrogação dessa política até 2021. Conforme a entidade, o fim da desoneração poderia gerar aumento de R$ 572 milhões nos custos de empresas e perda de cerca de 15 mil empregos no país — 4 mil a 5 mil no Rio Grande do Sul.
— Estamos trabalhando, há mais de um mês, pela derrubada do veto. O momento é de recuperação da indústria, fragilizada pela pandemia. Novo baque estaria desalinhado com a necessidade de geração de empregos — diz o presidente-executivo da Abicalçados, Haroldo Ferreira. — Mas vemos com muita cautela a eventual criação de um imposto. Não existe espaço para aumento de carga tributária — pondera.
Por meio da desoneração, em vez do pagamento de 20% sobre a folha salarial para a Previdência, empresas contribuem com percentual de até 4,5% sobre o faturamento. Com a criação do novo imposto, o governo buscaria, inclusive, zerar encargos para trabalhadores que ganham um salário mínimo em setores diversos. Para as demais faixas, reduziria a alíquota de 20% para 15%. A nova CPMF seria usada para compensar o impacto fiscal.
— Não podemos misturar as duas coisas. A manutenção da desoneração, em momento como este, é muito necessária. Haveria aumento no custo do trabalho, em 2021, para as empresas que utilizam essa política — pontua André Nunes de Nunes, economista-chefe da Federação das Indústrias do Estado (Fiergs). — Outra coisa é a criação de um imposto do tipo CPMF. Do ponto de vista econômico, é muito ruim. Gera efeito cascata. É cumulativo — acrescenta.
Na visão de Nunes, a intenção de promover uma desoneração ampla, como sinaliza o governo, requer uma análise criteriosa sobre os reflexos na área fiscal:
— Medidas que reduzam os custos de mão de obra são importantes. Mas, neste caso, é preciso avaliar os impactos fiscais, porque existe pouco espaço.
O presidente da Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado (Fecomércio-RS), Luiz Carlos Bohn, considera que pensar em um novo imposto é "totalmente errado".
— O governo precisa cuidar de seus gastos. Tributamos muito o consumo e menos a renda. O sistema tem de mudar aí. Chega de imposto — afirma o dirigente.
Entenda a discussão
A desoneração da folha de pagamento foi lançada no governo Dilma Rousseff (PT). A política chegou a atingir 56 setores da economia. Hoje, o número de atividades contempladas é menor, de 17.
Com a desoneração, em vez do pagamento para a Previdência de 20% sobre os salários, as empresas contribuem com percentual de 1% a 4,5% sobre o faturamento bruto — o cálculo varia conforme o setor. A medida beneficia atividades intensivas em mão de obra.
A desoneração terminaria neste ano, mas o Congresso aprovou, em junho, a ampliação da medida até 2021, em meio aos estragos provocados pela pandemia de coronavírus no mercado de trabalho.
Em seguida, a pedido do Ministério da Economia, o presidente Jair Bolsonaro vetou a ampliação, gerando questionamentos de setores atingidos. A expectativa é de que o Congresso derrube o veto presidencial na próxima semana.
Diante das dificuldades junto aos parlamentares, o governo estuda, agora, ampliar o programa de desoneração da folha, mas, em contrapartida, buscaria a criação de novo tributo sobre transações digitais. 
Esse eventual imposto, apelidado de nova CPMF, encontra resistência no Congresso e no meio empresarial. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), tem sido um dos críticos ferrenhos à criação do tributo.
Pelo menos até o fim deste ano, a desoneração é válida para os setores de calçados, call center, comunicação, confecção e vestuário, construção civil, empresas de construção e obras de infraestrutura, couro, fabricação de veículos e carrocerias, máquinas e equipamentos, proteína animal, têxtil, tecnologia da informação, tecnologia da comunicação, projeto de circuitos integrados, transporte metroviário de passageiros, transporte rodoviário coletivo e transporte rodoviário de cargas.
Fonte: Gaúcha ZH
Mais notícias sobre GERAL