Faleceu por volta das 10hs15 de hoje, 09, aos 93 anos, no Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, Alberto Hoffmann. Nascido em
Ijuí, no dia 30 de novembro de 1920, filho de Henrique Luiz e Maria Madalena, deixa a esposa Adelina e quatro filhos, ou seja, Ademar, Ana Maria, Alice e Anelise.
Economista de formação, Alberto Hoffmann foi agricultor, contabilista e comerciário. Ocupou diversos cargos públicos, entre os quais, secretário estadual
de Agricultura, Economia, Fazenda e do Desenvolvimento Regional e Obras.
Ele também foi deputado federal por cinco legislaturas e deputado estadual por
três vezes, além de senador e presidente do Tribunal de Contas da União. Por enquanto, o horário do velório e local de sepultamento de Alberto Hoffmann
não foram divulgados pela família.
Abaixo matéria extraida do site do professor e historiador José Augusto Fiorin,
sobre Alberto Hoffmann:
Nascido em 1920, o ex-deputado, economista e contador Alberto Hoffmann era secretário estadual da Agricultura em 1961, quando
ocorreu o Movimento da Legalidade. Em entrevista concedida à Agência de Notícias da Assembleia, ele relembra alguns dos fatos marcantes desse período, quando a
população gaúcha, liderada pelo então governador Leonel Brizola, foi para as ruas exigir que o vice-governador João Goulart assumisse a presidência
após a renúncia de Jânio Quadros. "Era um sentimento gaúcho, sobre um (conterrâneo) gaúcho que estava sendo burlado no seu direito de tomar
posse na Presidência da República", recorda.
Hoffman integrou a comitiva oficial do governo do Estado que foi até Montevidéu
para acompanhar Jango em seu retorno ao País (o vice-presidente estava em visita oficial à China quando Jânio renunciou, e retornou ao Brasil via Uruguai e Porto
Alegre). "Sentimos nele aquele ânimo mais pacificador, de não desejar uma revolução, não querer um derramamento de sangue e achar um meio de controlar
a situação", diz, ao recordar o encontro.
Deputado estadual por três legislaturas (1951-1959 e 1963-1967), tendo presidido a Assembleia
Legislativa em 1957 e 1958, Hoffmann também foi deputado federal por cinco mandatos (1959-1963 e 1967-1983) - ele licenciou-se do cargo entre fevereiro de 1959 e outubro de 1961 para
assumir a Secretaria da Agricultura, onde acompanhou de perto a Legalidade. Foi ainda titular de várias secretarias de Estado, ministro e presidente do Tribunal de Contas da
União no governo Figueiredo e senador no governo Collor.
Agência de Notícias - Qual a sua participação no Movimento da Legalidade?
Alberto Hoffmann – O governador Brizola designou a mim, como secretário de estado, e mais o Pedro Tassis Gonzales e o Waldemar Rodrigues, que eram dois
deputados estaduais do PTB, para os três constituirmos a comissão que receberia Jango em Montevidéu. Para lá seguimos (em 1º de setembro de 1961) e
encontramos então o João Goulart na embaixada brasileira. Sentimos nele desde o início aquele ânimo mais pacificador, de não desejar uma
revolução, não querer um derramamento de sangue e achar um meio de controlar a situação. Logo em seguida fomos ao aeroporto, onde chegava um avião
de Brasília, com uma tripulação grande e um único passageiro: Tancredo Neves, que vinha de Brasília para negociar o Parlamentarismo. E o que aconteceu
posteriormente, poucos dias depois (em 3 de setembro), foi a aprovação da emenda parlamentarista. O Jango assumiu a presidência da República e o Tancredo
Neves assumiu como primeiro-ministro. Mas ainda durante essas negociações, Jango retornou ao Brasil, vindo direto a Porto Alegre. E aqui eu estive presente quando Jango saudou
a massa que estava em frente ao Palácio Piratini e queria que ele desse um grito de guerra. Ele nem falou, apenas abanou com simpatia para o povo naquele momento. Ele tinha um
caráter mais pacifista que o Brizola, e há que registrar que houve até um esfriamento de relações entre os cunhados (Jango e Brizola eram cunhados - a
esposa de Brizola, Dona Neusa, era irmã de Jango) naquele tempo. Mais tarde, com a iniciativa da emenda que derrubou o parlamentarismo, eles se reconciliaram plenamente (o
parlamentarismo foi revogado em 6 de janeiro de 1963, com a realização de um plebiscito nacional).
Agência de Notícias - O senhor ficou em
vigília no Palácio Piratini durante aquele período?
Alberto Hoffmann – Sim, isso aqui estava lotado de civil e "milico" dia e
noite. Tanto o Palácio quanto a Assembleia Legislativa, que funcionava no Casarão da Duque, onde hoje é o Memorial do Legislativo, estavam cheios.
Agência de Notícias - Como foi a participação da Assembleia na Legalidade?
Alberto Hoffmann – Lembro da viagem que os deputados
estaduais fizeram a Brasília. A Assembleia em peso esteve lá *. Nesse ponto (a união pelo) Rio Grande do Sul estava acima de tudo. Não era só porque o
Brizola era o líder da Legalidade, convocando as rádios, mas porque era um sentimento gaúcho, sobre um (conterrâneo) gaúcho que estava sendo burlado no seu
direito de posse na Presidência da República. O fato de Jango ser gaúcho mobilizou o estado.
Agência de Notícias - Como o senhor
avalia o fato da maioria dos deputados estaduais, mesmo os de oposição, apoiarem o movimento?
Alberto Hoffmann – Foi uma posição de
grandeza desta Casa, que tinha dado já tantos exemplos históricos em outras oportunidades. Na hora das grandes causas, a Assembleia acha uma solução
conciliatória.
Agência de Notícias - Como foi a mobilização da sociedade durante esse período?
Alberto Hoffmann – Uns 70% do povo do Rio Grande estava do lado da legalidade, porque estava sendo rasgada a Constituição. Se a Constituição Brasileira
dizia que tínhamos um presidente e um vice, quando o presidente renunciou o vice tinha que assumir. Isso era óbvio, independentemente do partido que cada um defendesse, da
legenda que cada um tivesse. Tinha que ficar firme nessa posição a favor da legalidade, porque se a lei não valesse mais nada a anarquia estava imposta.
Agência de Notícias - Houve distribuição de armas para a população?
Alberto Hoffmann – Não tenho
conhecimento disso. Haveria, se saísse a revolução. Se fosse pelo meu ex-chefe Brizola, sairia uma revolução. Pelo Jango, não saiu. Se tivesse
saído uma revolução teria sido uma carnificina terrível. Não teria sido bom nem para o Rio Grande do Sul, nem para o Brasil.
Agência de Notícias – Qual a importância de Brizola para o Movimento da Legalidade?
Alberto Hoffmann – A posição dele de
estar disposto a ir até as últimas consequências foi o que motivou a se encontrar uma solução. Foi muito importante no jogo democrático da
época.
Agência de Notícias - Como o senhor avalia o movimento 50 anos depois?
Alberto Hoffmann - Foi um movimento de
afirmação do estado. O Rio Grande do Sul já em outras épocas, como na Guerra dos Farrapos, teve uma posição mais firme do que outras unidades da
nossa federação. Então foi, para usar nossos termos, uma gauchada de bom efeito e de boa posição.
* Em 30 de agosto de 1961,
uma comitiva de 16 deputados estaduais gaúchos, com representantes de seis das oito bancadas existentes à época, voou para Brasília com o propósito de
oferecer Porto Alegre como local seguro para sediar as atividades do Congresso Nacional.
Alberto Hoffmann: “O fato de Jango ser gaúcho mobilizou o
estado”
Leticia Rodrigues - MTB 9373 | Agência de Notícias 11:44 - 03/06/2011
Edição: Sheyla
Scardoelli - MTB 6727 Foto: Marcos Eifler / Ag. AL