Liberados pouco depois de serem atendidos no Hospital Bruno Born
(HBB), de Lajeado, com alguns arranhões e dores localizadas, o trio de sobreviventes que perdeu pai e mãe, além de um irmão e duas tias, ainda tenta entender o
que aconteceu na noite desta quarta-feira. Quem dirá saber o que fazer daqui pra frente.
— Não sei o que vai ser de nós — afirmaram
os três, repetidas vezes, enquanto aguardavam a chegada de amigos em frente ao HBB.
Primogênito de sete irmãos — sendo que um oitavo morreu
há oito ano ainda criança, vítima de uma doença —, Vilson Barbosa Schimitz, 24 anos, se encarregou de dar informações à
polícia, reconhecer os corpos e tentar acalmar a família, que ligava incessantemente.
— A gente tinha planos de comprar um terreno, construir uma
casa e sair do aluguel. Agora não sei mais, vou ter que dar um jeito de sustentar meus irmãos, que são menores de idade — avaliava o pedreiro.
Os três sobreviventes, que estavam no Fiat Premio conduzido pelo amigo Douglas Maldonado, moravam juntos com os pais em Nova Santa Rita, no bairro Berto Círio. O irmão
Álisson, 23 anos, morava em Porto Alegre com uma companheira e vendia produtos a supermercados.
— Só sei que não vou ter coragem de
voltar a construir, não sem meu pai. Foi ele que me ensinou tudo que sei, ele queria que eu fosse um bom pedreiro como ele. Não vou ter coragem, não logo —
concluiu Vilson.
Juliane Barbosa Schimitz, a caçula de 16 anos, pretendia repetir a sétima série, mas já não sabe se vai poder ou
se terá que trabalhar. Daniel Barbosa Schimitz, 17 anos, já havia desistido da escola antes da tragédia, quando estava na quinta série. Agora, ele projeta ajudar
o irmão:
— Vamos ter que dar um jeito de pagar o aluguel e colocar comida dentro de casa.
Abraçada no amigo Douglas
Maldonado, o Gordo, de 25 anos, que era o condutor do carro em que estava, Juliana se consolava pensando que a mãe havia avisado para que se cuidassem, numa parada pouco antes do
acidente.
— Ela disse pro Gordo: cuida bem deles. E eu sei que meu pai iria querer que a gente ficasse bem, feliz. Mas não consigo entender por que, por
que eles? — questiona, ao mesmo tempo em que agradece ao amigo por ter salvo a vida dela e dos irmãos.
Outros dois carros, em que estavam primos e dois
irmãos, também retornaram do velório da mãe de Assunção, o pai da família, no mesmo dia, mas saíram cerca de duas horas antes e
já estariam em casa quando as colisões aconteceram.
Segundo Vilson, o velório dos pais e do irmão deve acontecer em Nova Santa Rita.
Já o das tias, Soeli e Zilda, que moravam na Região Metropolitana, mas com os quem tinham pouco contato, ele não soube dizer.
Por volta das
19h20min desta quarta-feira, um caminhão em alta velocidade devido à ausência de freios teria colidido na traseira de um veículo que estava no mesmo sentido,
depois em outro (também na traseira), perdido o controle e se chocado de frente com um Fiat Uno que vinha na direção contrária, na BR-386, em Pouso Novo. Pelo
menos dois carros pegaram fogo devido à colisão.