Em depoimento na tarde desta sexta-feira (24) sobre o caso da morte de Bernardo Boldrini, 11 anos, morto em abril deste ano,
o padrasto de Graciele Ugulini, madrasta do garoto e ré no processo, afirmou que desconfia do envolvimento do pai do menino no crime. A oitiva ocorreu no Fórum de Santo
Ângelo, Região das Missões do Rio Grande do Sul. O médico Leandro Boldrini também é acusado do assassinato.
Sérgio Glauco
da Silva Rolim de Moura falou à Justiça por cerca de uma hora e meia. Ao juiz, relatou a cumplicidade do casal e o difícil relacionamento com o menino. O padrasto de
Graciele declarou ainda que a enteada não tinha dinheiro próprio para pagar os outros supostos envolvidos no crime, que, segundo ele, devem ter sido financiados por
Leandro.
Além de Graciele e Leandro, a assistente social Edelvânia Wirganovicz e o irmão dela, Evandro Wirganovicz, também são
acusados de homicídio qualificado e ocultação de cadáver. Leandro ainda responde por falsidade ideológica e, segundo a polícia, foi o mentor do
crime ao lado da mulher. Os quatro estão presos.
Em meio ao depoimento, o homem disse que não "tinha intimidade" com o médico e que
não costumava frequentar a casa do casal em Três Passos. "Ele não era meu genro. Ele era companheiro da minha enteada", definiu. Segundo o padrasto, Leandro
era um homem "frio e distante".
No entanto, afirmou que Bernardo era um menino "educado e querido", mas apenas longe do pai e da madrasta. Perto de
ambos, adotava um comportamento agressivo. Ainda assim, a criança chamava o padrasto de Graciele de avô e chegou a passar férias na casa dele em Santo
Ângelo.
O homem ainda confirmou que o casal foi a uma festa no município de Três de Maio, a cerca de 85 km de Três Passos, onde a
família residia, no dia seguinte à morte de Bernardo. A mãe de Graciele tomou conta da filha bebê do casal, na casa da irmã de Graciele, durante a
madrugada. "Leandro chegou embriagado e angustiado", relatou. Na semana posterior à morte do garoto, que inicialmente foi dado como desaparecido, Sérgio ajudou a
família a procurá-lo em Três Passos.
Os advogados de Leandro e de Graciele não quiseram comentar a audiência. Defensores
públicos representaram os advogados de Edelvânia e Evandro Wirganowicz, que não compareceram.
Das 25 testemunhas de acusação, a
Justiça ainda precisa ouvir a avó materna de Bernardo. Logo depois vão prestar depoimento as 52 testemunhas de defesa indicadas pelos advogados dos quatro
réus.
Entenda
Conforme alegou a família, Bernardo teria sido visto pela última vez às 18h do dia 4 de
abril, quando ia dormir na casa de um amigo, que ficava a duas quadras de distância da residência da família. No dia 6 de abril, o pai do menino disse que foi até
a casa do amigo, mas foi comunicado que o filho não estava lá e nem havia chegado nos dias anteriores.
No início da tarde do dia 4, a madrasta foi
multada por excesso de velocidade. A infração foi registrada na ERS-472, em um trecho entre os municípios de Tenente Portela e Palmitinho. Graciele trafegava a 117 km/h
e seguia em direção a Frederico Westphalen. O Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM) disse que ela estava acompanhada do menino.
O pai
registrou o desaparecimento do menino no dia 6, e a polícia começou a investigar o caso. No dia 14 de abril, o corpo do garoto foi localizado. Segundo as
investigações da Polícia Civil, Bernardo foi morto com uma superdosagem de um sedativo e depois enterrado em uma cova rasa, na área rural de Frederico
Westphalen.
O inquérito apontou que Leandro Boldrini atuou no crime de homicídio e ocultação de cadáver como mentor, juntamente com
Graciele. Ainda conforme a polícia, ele também auxiliou na compra do remédio em comprimidos, fornecendo a receita médica. Leandro e Graciele arquitetaram o
plano, assim como a história para que tal crime ficasse impune, e contaram com a colaboração dos irmãos Edelvânia e Evandro, concluiu a
investigação policial.