Logomarca Paulo Marques Notícias

03/04/2015 | 17:27 | Polícia

Caso Bernardo: crime completa um ano e MP espera julgamento em 2015

Quatro réus estão presos e devem ser ouvidos nos próximos meses

Quatro réus estão presos e 

devem ser ouvidos nos próximos meses
Foto: Mauro Vieira / Agência RBS
14 de abril de 2014. Um menino de onze anos, que supostamente estava desaparecido há dez dias, é encontrado morto em Três Passos, região noroeste do Estado. Na época, o então diretor do Departamento de Polícia do Interior, delegado Mário Vagner, dava as primeiras informações à Rádio Gaúcha das prisões do pai, da madrasta e de uma amiga dela.
“Eu pedi um reforço para as delegacias de Santa Rosa e Santo Ângelo”, disse o delegado na época.
A morte de Bernardo Uglione Boldrini, de 11 anos, completa um ano neste sábado. Estão presos o pai dele, Leandro Boldrini, a madrasta, Graciele Ugulini, e os irmãos Edelvânia e Evandro Wirganovicz. Um dos casos mais cruéis ocorridos no Rio Grande do Sul estava recém sendo desvendado. No início, o médico Leandro Bodldrini disse à polícia que o filho havia dormido na casa de um coleguinha, o que logo foi desmentido pelo pai do garoto.
“Não. Em momento algum ele foi lá em casa”, destaca Muller.
Bernardo foi morto pela madrasta Graciele. Edelvânia estava com eles no carro quando ocorreu o assassinato e ajudou a enterrar o corpo numa cova no interior de Frederico Westphalen. O menino pediu socorro na época, mas ninguém ouviu. Ou se ouviu, não deu a devida atenção. O franzino garoto chegou a ir sozinho ao Foro da cidade pedir ajuda a então promotora Dinamárcia Maciel de Oliveira e ao juiz Fernando Vieira dos Santos. Após uma audiência, mesmo depois de todas as reclamações que Bernardo fazia da família, o magistrado decidiu manter a guarda dele com o pai, com o consentimento do Ministério Público. Pouco mais de um mês depois, ele foi encontrado morto. Erro do juiz?
“Infelizmente fomos surpreendidos”, disse o juiz na época.
Interpretação equivocada dos fatos pela promotora?
“Nós perguntamos se ele apanhava, se havia alguma cena de violência e ele relatou que não”, disse a promotora no ano passado.
E a avó materna, Jussara Uglione, que hoje sofre com a morte do neto, por que não se esforçou mais em obter a guarda do garoto? São perguntas que até hoje não têm resposta. Já o que nem precisava de respostas é que Bernardo estava sofrendo e não era ouvido, como fica evidente nesse áudio extraído do celular do pai.
“Socorro. Socorro. Alguém me ajuda aqui. Socorro”, gritava o garoto dentro de casa.
Um ano depois do crime, o advogado de Edelvânia Wirganovicz, Demetryus Eugênio Grapiglia, continua sustentando que sua cliente não ajudou a matar o menino.
“Acredito na versão da Edelvânia de que a participação dela se deu tão somente com a ocultação do cadáver”, afirma o advogado.
Já o advogado de Evandro Wirganovicz, Hélio Sauer, afirma que ele está preso injustamente.
“No momento em que algum ato, algum fato, algum documento ou alguma informação que me convença da culpabilidade do Evandro, em 24h eu estarei declinando do processo e não estaria na defesa dele”, destaca Sauer.
A delegada Caroline Bamberg Machado foi quem indiciou Leandro, Graciele, Edelvânia e Evandro pelo crime.
“Foi um fato muito chocante. Que marcou a todos. O caso é bastante lembrado. A casa é bastante visitada ainda”, conta a delegada.
O advogado da avó materna de Bernardo, Marlon Taborda, afirma que Jussara Uglione parece ainda não acreditar na morte do menino, mesmo passado um ano.
“Dona Jussara a cada dia que passa, ela cada vez mais tem o anseio de justiça. Eu vejo que nela a ficha não caiu”, relata o advogado.
Taborda ainda tenta reabrir o caso de suicídio envolvendo a morte da mãe do menino Bernardo, Odilaine Uglione. O advogado de Graciele Uguline não atendeu aos telefonemas da Rádio Gaúcha. Os advogados de Leandro Boldrini enviaram nota afirmando que só se manifestam no processo. A promotora que agora está responsável pelo caso, Silvia Jappe, tem convicção de que Leandro Boldrini foi o articulador da morte do filho.
“De fato ficou demonstrado que foi um crime planejado, de forma prévia. E houve uma divisão de tarefas e se entende que o pai teve participação nisso, no planejamento e na divisão de tarefas”, sustenta a promotora.
O juiz Marcos Luís Agostini não vai se manifestar. Vinte e cinco testemunhas de acusação e 28 de defesa foram ouvidas no processo criminal que tramita na Comarca de Três Passos. Nove Habeas Corpus foram negados. Ainda não há data para ouvir os quatro réus. Para que isso ocorra, falta apenas o depoimento de uma testemunha em Boa Vista, Roraima, e a resposta do Instituto Geral de Perícias para uma complementação de perícia no receituário apreendido que foi usado para a compra do medicamento usado para matar Bernardo. O IGP está com o pedido há um mês e ainda não respondeu.
Depois do interrogatório, é aberto prazo para que os advogados apresentem as suas argumentações. Por fim, o magistrado terá quatro opções:
- Sentença de pronúncia - Caso o Juiz se convença da materialidade dos fatos e de indícios de autoria ou de participação, os réus vão ser julgados no Tribunal do Júri.
- Sentença de impronúncia - Nesse caso, o magistrado considera que não há prova da existência do fato ou indícios de autoria. O processo então é arquivado.
- Absolvição sumária - Se o Juiz decidir que há prova segura da inocência dos acusados. Os réus então são inocentados.
- Desclassificação - Ocorrerá quando o juiz se convencer da existência de crime diferente daquele pelo qual o réu foi denunciado, que não seja doloso contra a vida. Nesse caso, será julgado em Vara Criminal.
Caso Bernardo
Bernando Uglione Boldrini, 11 anos, foi encontrado morto no dia 14 de abril de 2014, após dez dias desaparecido. O corpo do menino estava em um matagal, enterrado dentro de um saco, na localidade de Linha São Francisco, em Frederico Westphalen. Bernardo morava com o pai, o médico-cirurgião Leandro Boldrini, a madrasta, Graciele Ugulini, e uma meia-irmã, de 1 ano, no município de Três Passos.
O pai, a madrasta e uma amiga dela, Edelvânia Wirganovicz, respondem na Justiça por homicídio quadruplamente qualificado (motivos torpe e fútil, emprego de veneno e recurso que dificultou a defesa da vítima) e ocultação de cadáver. O irmão de Edelvânia, Evandro, também responde por ocultação de cadáver. O pai de Bernardo ainda é acusado por falsidade ideológica.
Fonte: Rádio Gaúcha
Mais notícias sobre POLÍCIA